sábado, abril 25, 2009

Obrigado Charles Darwin

Este post é uma resposta ao post do Barros intitulado de "Obrigado, Senhor". Pelo endereço do post, pode-se vêr que o título actual não era o original. Pergunto-me o que levou o Barros a mudar o título para o actual.

No post supracitado o Barros culpa o Deus da Bíblia pelas calamidades naturais, pelas guerras supostamente feitas no Seu Nome, na morte de inocentes e no sofrimento daqueles que estão em estados terminais. O que está subentendido no post é que existe algo de errado com o sofrimento humano. O Barros infelizmente não disse qual era o problema do sofrimento humano, e nem disse o porquê da moralidade que ele subsecreve se aplicar aos outros. Afinal, embora para a moral do Barros a morte de inocentes seja uma coisa má, como Deus supostamente não existe (o que implica que a moralidade seja relativa) então se calhar a morte de inocentes seja uma coisa boa para outras pessoas.

O mais irónico disto tudo é que, segundo a religião que o Barros subescreve, a morte, a fome e as guerras são coisas boas. Charles Darwin disse:

"Thus, from the war of nature, from famine and death, the most exalted object which we are capable of conceiving, namely. the production of the higher animals, directly follows. There is grandeur in this view of life" - (Origin, 1st. Edition 1859).

Se o próprio Charles Darwin diz que a morte, as guerras e a fome causaram o aparecimento dos "higher animals" (o que inclui o ser humano), porque é que o Barros contradiz o santo Darwin?

Este post, é portanto, a minha resposta humilde ao seu post.

Obrigado pela tua teoria, Charles Darwin


1. Graças a ela nós podemos justificar a bestialidade. Afinal se nós somos todos animais, quem é que pode proibir um homem de ter relações sexuais com uma cabra?

"This does not make sex across the species barrier normal, or natural, whatever those much-misused words may mean, but it does imply that it ceases to be an offence to our status and dignity as human beings."
2. Graças a tua teoria, Charles Darwin, podemos pôr um ser humano numa jaula como se ele fosse um animal:
One of the most fascinating stories about the effects of evolution on human relations is the story of Ota Benga, a pygmy who was put on display in a zoo as an example of an evolutionarily inferior race. The incident clearly reveals the racism of evolutionary theory and the extent to which the theory gripped the hearts and minds of scientists.
3. Graças à tua teoria, Darwin, podemos justificar a infidelidade matrimonial:
The second is the more primitive one of scattering his seed wherever and whenever he gets the chance. If he finds himself in the company of an adult female who is not his family partner, he may feel the urge to engage in a brief bout of sexual activity with her, even if he will never encounter her again.
4. Graças à tua teoria, Darwin, podemos também justificar a violação como uma "adaptação evolutiva":
There is obviously some evolutionary basis to rape just like there is some evolutionary basis to all aspects of living things. In the book we narrow it down to two plausible specific evolutionary reasons for why we are a species in which rape occurs. One is just a by-product of evolved differences between the sexualities of males and females. Or, two, rape might be an adaptation. There might have been selection favouring males who raped under some circumstances in the past. And therefore there might be some aspects of male brains designed specifically to rape under some conditions.
5. Muito obrigado pela tua teoria, Darwin, porque sem ela provavelmente nunca haveria fundamento "científico" para a eliminação sistemática de mais de 6 milhões de judeus:
"The German Führer, as I have consistently maintained, is an evolutionist; he has consciously sought to make the practice of Germany conform to the theory of evolution." - Sir Arthur Keith, Evolution and Ethics, 1947, p. 14
Darwin classificou os africanos e os nativos australianos de raças inferiores. Hitler apenas acrescentou os judeus a essa lista.

Obrigado Charles Darwin. O século 20 seria bem diferente sem a tua teoria.

1 comentários:

"A Terra é a nossa Mãe, e nós os seus filhos" diz um velho provérbio hindu. "O homem não teceu a rede da vida - ele é um simples fio nessa rede" disse o emblemático chefe Seattle. No fundo de nós há consciência dos nossos laços com as demais vidas animais, mesmo quando por vezes a negamos e nos colocamos num plano superior.

Bem no fundo de nós, não gostamos de ser animais, ou de sermos meramente um animal. Sobretudo, não gostamos da idéia de sermos parentes próximos dos símios, ou descendentes de insignificantes bactérias, tal como não gostamos que a Terra e nós mesmos não estejamos no centro do Universo e dos propósitos de Deus...

Por isso, digerimos mal as revelações da ciência. As reações de repúdio sobre as nossas origens e o nosso parentesco aos símios e à restante vida animal, vem ocorrendo desde os tempos de Darwin.

Não foi por acaso que Darwin adiou durante anos a sua Origem da Espécies. Ele adivinhava as reações que sua obra sofreria. As idéias presentes no seu livro contrariavam a sua crença religiosa profunda, e só a sua honestidade intelectual o levou a não desistir. Não é por acaso também que ainda hoje, um pouco por todo o mundo e muito particularmente nos EUA, os criacionistas têm tanto apoio, e as idéias de Darwin são tão contestadas.

A ciência veio pôr em risco a visão tradicional do homem. Com as revelações da ciência o homem deixou de se beneficiar de um estatuto especial na criação e no Universo, para passar a ser apenas um produto comum de um "relojoeiro cego", para usar a metáfora de Richard Dawkins. Passamos a ser "máquinas de sobrevivência - veículos robotizados cegamente programados de modo a preservarmos as moléculas egoístas a que chamamos genes".

Podemos, obviamente, contestar certas interpretações e leituras científicas. Podemos, por exemplo, achar que não somos meras "máquinas de sobrevivência", no sentido mais literal do termo, como aliás Dawkins admite, ao considerar que nascemos egoístas mas que podemos ensinar a nós mesmos "generosidade e altruísmo". Que pela compreensão do que somos e do papel dos genes em nós, temos uma hipótese "contrariar os desígnios genéticos, algo a que nenhuma outra espécie aspirou".

Mas será que podemos ou temos legitimidade em recusar a parte mais legítima e documentada da ciência? Terá alguma legitimidade reações como a de Thomas Reid, um destacado filósofo escocês do XVIII, quando ele afirmou: "Se é ilusão ser a essência humana algo venerável e digno, então deixem-me viver e morrer nessa ilusão, e não se esforcem por me abrir os olhos de modo a que veja a minha espécie sob uma luz humilhante e repulsiva"?

Se quisermos ser honestos com nós mesmos, e abraçar a verdade, a nossa resposta só pode ser uma: NÃO! Não temos o direito de negar os fatos e conclusões cientificamente sustentadas.

Uma parte de nós quer negar a realidade. "O homem sempre lutou com todas as suas forças contra a realidade" (Jean Servier). A crueldade da vida nos leva ao sonho e à fantasia. A morte e a dor, sempre presentes ou sempre rondando, são um convite as
crenças religiosas. E podemos aceitar este fato, nos livrar da culpa. Faz parte das nossas fraquezas.

Mas não podemos ou devemos viver de quimeras, ilusões e sonhos, ou de ultrapassadas noções de honra, como as defendidas por Reid. Não temos que ter vergonha das nossas baixas e humildes origens. Não são elas que nos desprestigiam.

O que pode nos desprestigiar e rebaixar, não são as origens e o nosso papel insignificante a nível do Universo revelado pela ciência, mas sim os nossos atos. O que pode nos humilhar é a nossa recusa em aceitarmos a verdade, é a covardia intelectual que nos leva a aceitar e alimentar o mito e a inverdade.

A nossa dignidade passa pelo nosso pensamento. Passa pela nossa capacidade em descobrir, aceitar e respeitar a verdade, em nos elevarmos por via da nossa inteligência, em irmos para além das ilusões ditadas pelos nossos sentidos e em contrariar a nossa atração por aquilo que a sociedade considera comum. A dignidade está na verdade, por mais que ela quebre os nossos sonhos de imortalidade e grandeza. Mas não está na negação da realidade.

Se queremos que a dignidade que os pensadores clássicos nos atribuíam, baseados na nossa racionalidade, tenha algum significado, não podemos negar essa mesma racionalidade, recusando as evidências e as provas científicas sobre as nossas origens e o nosso papel no Universo. "A nossa insignificância de animais humanos, não pode injuriar a consciência da nossa dignidade de homens racionais", considerou
Kant, talvez de forma exagerada. Será bom, de qualquer modo, que não rejeitemos tal dignidade de forma grosseira, mergulhando em versões míticas do homem.

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