O ateu Ludwig escreveu neste post uma coisa que eu gostaria de comentar.
"Mas nunca fica claro o que querem os críticos dizer com isso, nem como um deus resolveria esse suposto problema."Primeiramente é preciso vêr que quando os cristãos dizem Deus, eles não têm em mente "um deus", mas o Unico Deus que existe. Tu podes dizer "ah e tal, mas isso é o que tu acreditas". Pois, mas é exactamente o que tu perguntas. Tu perguntas como é que a nossa visão do mundo responde a noção da moral absoluta, e portanto não podes criticar se usamos o que nós acreditamos para responder à pergunta.
Partindo daqui, dizêmos que Esse Único Deus (definido em traços gerais em Actos 17), sendo Ele o Criador do Universo, Omnisciente, Omnibenevolente e Omnipotente, Ele possui toda a informação sobre todos os aspectos da vida humana, sempre. Daí se concluí que, dentro da visão Cristã, faz sentido haver moralidade absoluta. Faz sentido nós usarmos aquilo que nós sabemos ser a Palavra do Deus Único como a Régua de medir no campo moral. Afinal,se o Criador do Universo não sabe como o universo deve funcionar, quem é que sabe?
Isto explica como o Deus Único Pode ser a Fonte da moralidade absoluta.
Agora, se Deus não existe, então o ateu não têm justificação nenhuma para criticar a moral dos criacionistas. Porquê? Porque sem Um Ponto de Referência Absoluto, toda a moral é relativa, pessoal e subjectiva. Dentro do ateísmo, matar-se milhões de pessoas (como fêz o ateu Stalin) ou beber um copo de água, tem o mesmo peso moral se o ateu assim o decidir.
Portanto, enquanto o cristão tem uma forma absoluta para separar o trigo do joio, o ateu não tem.
Mas o curioso disto tudo é que o ateu sabe que há moralidade absoluta. O ateu sabe que há coisas que são absolutamente erradas, independentemente de quem as faça, há coisas que são absolutamente correctas, indepedentemente de quem as faça.
Ao viver agindo e assumindo a existência de leis morais a que todos os seres humanos estão vinculados, oa ateus dão contínua evidência que eles sabem que o Deus Único existe. Portanto, o que o Apóstolo Paulo escreveu sobre eles Romanos 1 é confirmado continuamente cada vez que eles atacam a moral de outrém.
É um dos grandes paradoxos da história que o ateu para atacar o cristão tenha que assumir que o que o cristão acredita está certo. Mas o ateísmo, pela sua natureza contraditória, é fértil em posições "curiosas".
Romanos 1: 21-22 Porquanto, tendo conhecido a Deus, contudo não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes nas suas especulações se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se estultosO ateu sabe que Deus existe (por isso eu até deveria deixar de usar a palavra "ateu") mas como o que Deus lhes diz não lhes agrada, eles suprimem o conhecimento de Deus para justificar a sua moralidade.
João 3: 19-20a E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz,E porquê é que eles amaram mais as trevas do que a Luz? Porque a Luz não era suficientemente Visível? Porque havia outras luzes que ofuscavam a Verdadeira Luz do Mundo?
Não. O Apóstolo João diz porquê. Eles (os ateus) suprimem o conhecimento de Deus que existe neles...
"porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas." (João 3:20b
3 comentários:
O unico absoluto que conheço é o Absurdo da tua "lógica"
Não disseste porquê
Meu recursivo Mats,
Estás com algumas dificuldades em avançar com a leitura do texto que tão delicadamente te tenho sugerido. Será por ser em PDF? Caso seja, tomarei a liberdade de passar para aqui alguns excertos. Pedia-te que os lesses e que me dissesses em que aspecto Umberto Eco está errado. Também sugiro veementemente a leitura completa da obra de onde tirei isto: Cinco Escritos Morais. Mas isso fica para a próxima.
Aqui vai:
Gostaria de tomar as coisas à distância. Certos problemas éticos tornam-se mais claros para mim ao reflectir sobre alguns problemas semânticos - e não se preocupe se alguns dizem que falamos difícil: (...) Que aprendam a pensar difícil, pois nem o mistério, nem a evidência são fáceis.
Meu problema era se existem "universais semânticos”, ou seja, noções elementares comuns a toda a espécie humana que podem ser expressas por todas as línguas. Problema não tão óbvio, no momento em que sabemos que
muitas culturas não reconhecem noções que para nós parecem evidentes: por exemplo, a da substância a que
pertencem certas propriedades (como quando dizemos “a maçã é vermelha”) ou a de identidade (a = a). Estou, no entanto, convencido de que certamente existem noções comuns a todas as culturas, e que todas elas referem-se às posições de nosso corpo no espaço.
Somos animais de postura ereta, por isso é cansativo permanecer muito tempo de cabeça para baixo e, portanto,
temos uma noção comum de alto e baixo, tendendo a privilegiar o primeiro sobre o segundo. Igualmente temos noções de direita e esquerda, do estar parado e do caminhar, do estar em pé ou deitado, do arrastar-se e do
saltar, da vigília e do sono. (...) A lista poderia continuar indefinidamente (...) Portanto (e já entramos na esfera do direito), temos
concepções universais acerca do constrangimento: não desejamos que alguém nos impeça de falar, ver, ouvir,
dormir, engolir ou expelir, ir aonde quisermos; sofremos se alguém nos amarra ou mantém segregados, nos bate,
fere ou mata, nos sujeita a torturas físicas ou psíquicas que diminuam ou anulem nossa capacidade de pensar.
Notemos que até agora coloquei em cena apenas uma espécie de Adão bestial e solitário, que ainda não sabe o
que seja a relação sexual, o prazer do diálogo, o amor pelos filhos, a dor da perda de uma pessoa amada; mas
nessa fase, pelo menos para nós (se não para ele ou ela), esta semântica já se transformou em base de uma ética:
devemos, antes de tudo, respeitar o direito da corporalidade do outro, entre os quais o direito de falar
e de pensar. Se nossos semelhantes tivessem respeitado esses “direitos do corpo” não teríamos tido o massacre
dos Inocentes, os cristãos no circo, a noite de São Bartolomeu, a fogueira para os hereges, os campos de extermínio, a censura, as crianças nas minas, os estupros na Bósnia.
Mas como é que, mesmo elaborando de imediato seu repertório instintivo de noções universais, o/a besta — toda estupor e ferocidade — poderia chegar a compreender que deseja fazer certas coisas e que não deseja que lhe façam outras, e também que não deveria fazer aos outros o que não quer que façam a si mesmo? (...) A dimensão ética começa quando entra em cena o outro.
Toda lei, moral ou jurídica, regula relações interpessoais, inclusive aquelas com um Outro que a impõe.
Também o senhor atribui ao leigo virtuoso a convicção de que o outro está em nós. Não se trata, porém, de uma vaga propensão sentimental, mas de uma condição fundadora. Mesmo quem mata, estupra, rouba, espanca, o faz em
momentos excepcionais, e pelo resto da vida lá estará a mendigar aprovação, amor, respeito, elogios de seus se-
melhantes. E mesmo àqueles a quem humilha ele pede o reconhecimento do medo e da submissão. Na falta desse
reconhecimento, o recém-nascido abandonado na floresta não se humaniza (...)
Como então houve ou há culturas que aprovam o massacre, o canibalismo, a humilhação do corpo de outrem? Simplesmente porque estas culturas restringem o conceito de “outros” à comunidade tribal (ou à etnia) e con-
sideram os “bárbaros” como seres desumanos; e também os cruzados não sentiam os infiéis como um próximo
que devesse ser tão amado assim.(...)
Mas o senhor pergunta: essa consciência da importância do outro é suficiente para fornecer-me uma base absoluta, um fundamento imutável para um comportamento ético?
Bastaria que eu respondesse que também aqueles que o senhor define como “fundamentos absolutos” não impedem que muitos fiéis pequem sabendo que o fazem, e o discurso acabaria aqui(...) Mas gostaria de contar-lhe duas anedotas que muito me fizeram pensar.
Uma refere-se a um escritor(...). Foi no tempo de João XXIII e meu velho amigo, celebrando entusiasticamente suas virtudes, disse (com evidente intenção paradoxal): “João XXIII deve ser ateu. Só quem não acredita em Deus pode querer tão bem a seus semelhantes!”. Como todos os paradoxos, este também continha seu grão de verdade: sem pensar no ateu (figura cuja psicologia me escapa, porque kantianamente não vejo como é possível não acreditar em Deus e considerar que não se pode comprovar Sua existência, e depois acreditar firmemente na inexistência de Deus, pensando poder prová-Lo), parece-me evidente que uma pessoa que nunca teve a experiência da transcendência, ou perdeu-a, pode dar um sentido à própria vida e à própria morte, pode sentir-se confortado só com o amor
pelos outros, com a tentativa de garantir a alguém uma vida vivível, mesmo depois que ele mesmo já tenha desaparecido.(...)A força de uma ética julga-se através do comportamento dos santos, não dos insipientes cuius deus venter est.
E passo à segunda anedota. Eu ainda era um jovem católico de dezesseis anos e aconteceu de empenhar-me em um duelo verbal com um conhecido mais velho que eu e tido como “comunista”, no sentido que tinha esse vocábulo nos terríveis anos 50. E como ele me provocasse, fiz-lhe a seguinte pergunta decisiva: como podia, ele, um
incrédulo, dar um sentido àquela coisa tão insensata que seria a própria morte, e ele respondeu-me: “Pedindo
antes de morrer um funeral civil. Assim, já não estarei presente, mas terei deixado aos outros um exemplo”. Creio que também o senhor pode admirar a fé profunda na continuidade da vida, o sentido absoluto do dever que animava aquela resposta. E foi este sentido que levou muitos incrédulos a morrer sob tortura para não trair os amigos, outros a infectar-se com a peste por cuidar dos infectados. Essa é, até hoje, a única coisa que leva
um filósofo a filosofar, um escritor a escrever: deixar uma mensagem na garrafa porque, de alguma maneira, aqueles que virão poderão acreditar ou achar belo aquilo em que ele acreditou ou que achou belo.
Este sentimento tão forte justificaria, realmente, uma ética tão determinada e inflexível, tão solidamente fundamentada quanto a dos que crêem na moral, na sobrevivência da alma, nos prêmios e nos castigos? Tentei basear os princípios de uma ética laica em um fato natural
(e, como tal, também para o senhor, resultado de um projeto divino) como a nossa corporalidade e a idéia de
que só sabemos instintivamente que temos uma alma (ou algo que exerce tal função) em virtude da presença do
outro. Surge daí que aquela que eu defini como ética laica é, no fundo, uma ética natural, que os crentes tam-
bém não desconhecem. (...)
Mas o senhor diz que, sem o exemplo e a palavra de Cristo, qualquer ética laica careceria de uma justificativa de
fundo que tenha uma força de convicção ineludível. Por que retirar do leigo o direito de valer-se do exemplo do Cristo que perdoa? Procure, Carlo Maria Martini, para o bem da discussão e do confronto em que acredita, aceitar, mesmo que por um só instante, a hipótese de que Deus não exista: que o homem, por um erro desajeitado do acaso, tenha surgido na Terra entregue a sua condição de mortal e, como se não bastasse, condenado a ter consciência disso e, portanto, que seja imperfeitíssimo entre os animais (e permita-me o tom leopardino dessa
hipótese). Este homem, para encontrar coragem para esperar a morte, tornou-se forçosamente um animal religioso, aspirando construir narrativas capazes de fonecer-lhe uma explicação e um modelo, uma imagem exemplar. E entre tantas que consegue imaginar — algumas fulgurantes, outras terríveis, outras ainda pateticamente
consoladoras — chegando à plenitude dos tempos, tem, em um momento determinado, a força religiosa, moral
e poética de conceber o modelo do Cristo, do amor universal, do perdão aos inimigos, da vida oferta em holocausto pela salvação do outro. Se eu fosse um viajante proveniente de galáxias distantes e me visse diante
de uma espécie que soube propor tal modelo, admiraria, subjugado, tanta energia teogônica e julgaria redimida esta espécie miserável e infame, que tantos horrores cometeu, apenas pelo fato de que conseguiu desejar e acreditar que tal seja a verdade.
Abandone agora também a hipótese e deixe-a para os outros: mas admita que, se Cristo fosse realmente apenas o
sujeito de um conto, o fato de que esse conto tenha sido imaginado e desejado por bípedes implumes que sabem
apenas que não sabem, seria tão milagroso (milagrosamente misterioso) quanto o fato de que o filho de um
Deus real tenha realmente encarnado. Este mistério natural e terreno não cessaria de perturbar e adoçar o coração de quem não crê.
Por isso, considero que, nos pontos fundamentais, uma ética natural — respeitada na profunda religiosidade que a anima — pode ir ao encontro dos princípios de uma ética baseada na fé na transcendência, a qual não pode
deixar de reconhecer que os princípios naturais foram esculpidos em nosso coração com base em um programa de salvação. Se restam, como certamente hão de restar, margens não-superáveis, não ocorre diversamente no encontro entre religiões diversas. E nos conflitos de fé devem prevalecer a Caridade e a Prudência.
Umberto Eco
Janeiro de 1996
Beijos,
Leandro
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